Uma existência sem porquê. Porque?
Viajo em um espaço negro
Em que cada passo é dado sem sustentação
E cada voz que ouço é uma tentação
Um esgar maldoso de crueldade
Sem amizade, sem intimidade nem nada.
Viajo então, por um universo surdo como se voasse cego
Sem sentir nada além da sensação que estava mudando de lugar.
Quando de repente uma explosão
Senti todos os meus ossos se quebrarem
Senti cada partícula do meu corpo ser rompida
Como se cada átomo do meu corpo e da minha alma tivessem se rompido ao mesmo tempo
Uma fissura no tempo e no espaço
E me vi em frente a uma casa.
Olhei ao redor
A casa era velha, e nada se via além dela em uma planície noturna
A lua iluminava tristemente as telhas verdosas do teto
E os tijolos fortes já se mostravam por entre as falhas do concreto pintado de azul
A casinha aparentemente tinha somente uma porta, sem janelas
E estava situada no topo de uma colina
Onde o vento uivava e transformava toda existência em frio e medo
A porta estava trancada, e o metal que a protegia impedia que qualquer um pudesse entrar e descobrir o interior.
Ao girar a maçaneta ouvi um clique e as luzes se apagaram novamente
Notei que já não ouvia o vento com clareza
E ao invés de frio, sentia um calor reconfortante
Entendi que estava dentro da casa
No seu interior não haviam janelas ou móveis,
Nenhum adorno ou saída
A casa em um quadrado perfeito continha somente poeira e silêncio
No centro da casa havia uma caixa de madeira trabalhada
Estando esta caixa em cima de um tecido com textura de seda
Abri a caixa e pude ver o seu interior
Jamais havia visto algo tão fantástico
Havia uma quantidade enorme de um pó no seu interior
Porém não era um pó comum
O pó resplandecia e se iluminava por si só
Emanava timidamente da sua caixinha luz e cor
O pó dançava e flutuava, iluminando todo o ambiente
Me prostrei em frente à caixa e fiquei admirando toda sua mágica
Perdi a noção do tempo
Poderia ter passado anos naquela posição
Somente observando e admirando todas as cores que daquela pequena caixinha emanavam
Realmente se passaram os tempos
As eras, as civilizações, as guerras, as descobertas
Tudo se tornou pequeno frente aquela beleza inocente e absoluta
Porém de uma hora pra outra as partículas de luz começaram a se apagar
E eu observei em pânico a luz e a alegria das cores irem diminuindo
Até que quase não se podia ver nada mais
Levantei e levei as mão à cabeça
O pavor tomou conta de toda a minha existência
Eu recuei alguns passos até encostar na parede
E observei chorando as últimas partículas coloridas mansamente se desligarem dentro da caixinha
Assumo que não via mais solução
Minha vida voltava a escurecer, depois de ter sido iluminada
O que fazia o escuro ser ainda mais impenetrável e estéril
Foi nesse momento que decidi
Que mesmo correndo o risco, faria novamente a luz da caixinha brilhar
Em um afã
Destruí as paredes da casa
Com as minhas mãos nuas
Pus ao chão todas as estruturas daquele cárcere
E ao derrubar as paredes fui banhado pela luz do sol da manhã
E senti o gosto das últimas gotas de orvalho que caiam do céu
Colorindo o ar de pequenos arco íris
O céu estava cor de âmbar e os últimos vestígios da noite se esvaiam em alegria e luz
Nesse momento, peguei nas minhas mãos a pequena caixa
E a abri, junto ao vento de soprava forte do Oeste
As partículas coloridas coloriram o céu
E em um instante a luz projetou todo aquele pó colorido para atmosfera
Transformando assim o céu azul em uma experiência de luz e cor
Sorri boquiaberto ao ver mais uma vez toda aquela energia
E me despedi apaixonado
Haveria de ser a última vez que a veria
Pois o vento havia levado todas as cores
A colorir outras paragens
Porém minha vida deixou de ser monocromática
Para ser colorida por ti
Iluminada por ti.
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