Vivo a margem de uma sociedade em franca evolução.
Uma evolução burra, mas uma evolução, sem dúvidas. Ou uma involução?
Mas longe de querer questionar o fato de os homens seguirem um padrão, minha vontade é mesmo expor a existência de um outro tipo de homem. Um outro tipo de comportamento.
Não um homem perfeito, ou menos cheio de defeitos, mas um homem diferente do que se vê e se sente.
Em 2014, vivendo em uma cidade grande, vejo com ainda mais contraste as escolhas que fiz quando era menor, em uma cidade pequena. E, apesar dos inerentes ônus, e não pensem que são poucos, acredito que os bônus são se não mais frequentes, mais autênticos.
É sintomático que a sociedade atual é baseada no espetáculo e no que parece significar. Isso fica bem claro quando vemos pessoas consumirem o que não podem pagar, ou mesmo o que não gostam para satisfazer queles que no dia seguinte, nem saberão do que se tratava.
Daí eu me pergunto, onde se encaixa um homem que do alto dos 25 anos, oferece sorvete ao invés de uma cerveja? Todos os entendidos riem nesse momento. É uma boa pausa para a comédia.
Nunca fui um homem de muitas companhias, nem de muitas garrafas. Preferi sempre uma ou duas. E como pode ser previsto, não são todos os gostos que me agradam. Nem sorvetes.
Enquanto meus conterrâneos de era falam de carros, bebedeiras, roupas, orgias de decibéis e sentimentos eu flutuo a margem tentando entender como isso não me chama atenção.
Há algo de errado com os homens que gostam de sorvete? Há algo de errado com os homens que preferem gastar mais do que três frases com uma mulher? Pois, sinceramente, acredito que eu seja aquele clássico “loser” que se vê nos filmes da sessão da tarde.
Nunca encontrei amor na noite. Será que não frequenta os lugares que frequento?
Nunca sequer encontrei um eco vago de retorno emocional na “balada”. Nunca entendi qual o fundamento de se espremer em um espaço ínfimo, com muitas pessoas que desconheço. Para conviver? Que convivência experimento em uma festa? Meia dúzia de frases, alguns copos de cerveja quente, esbarrões e filas.
Pois hei de contar uma história. A pessoa que realmente amo eu conheci comendo um sanduíche. E não foi no after da balada. Bom, poderia ser para os outros, mas pra nós não. Ela sentou na margem do mundo ao meu lado e observou comigo esse fascinante movimento de corpos e sentimentos que qualquer noite te proporciona. Comemos, rimos, observamos e fomos embora. Nessa noite em que a convidei pra comer um sanduíche, não fomos de taxi, e nem de carro luxuoso. Nossa maior apoteose foi assistir ao nascer do sol enquanto as mesmas pessoas que vimos a margem da nossa realidade, voltavam para suas casas para seu happy ending. Nesse dia, eu mesmo sem pegar na mão dela tive um happy ending. Isso é possível?
E o nosso primeiro beijo, quem diria, não foi numa boate. Não foi depois de muitas garrafas. Nosso primeiro beijo foi em um cinema, e no meio de nós havia um sorvete. Lembro até hoje todas as cores do seu sorriso, do seu batom, da casquinha do sorvete, do seu cabelo, das tachas do seu shorts, lembro do gosto do sorvete ainda preso ao seu sorriso quando puxei ela pra perto de mim. Lembro de todas as cores e gostos daquele momento, e lembro que o meu quebra gelo não foi o álcool, ou o apalavramento dos amigos. Foi um sorvete! Um sorvete, quem ainda oferece sorvete a sua menina? Quem é imprudente a esse ponto? Bom, eu fui. Sem planejamento algum, e acredita que deu certo? E sabe porque? Pois no momento, eu só queria que ela dividisse comigo um sorvete. Não queria levar ela pra cama, nem que ela fosse mais uma. Queria sim que ela tomasse um sorvete comigo, e que naquele momento aquele sorvete permeasse toda a sua essência, passando pelos seus neurônios e transcendesse a sua existência. Adoçando todas as tristezas da vida dela e a remetendo para um futuro de doçura e felicidade. Então me diga amigo, quão idiota fui? Porque não ofereci a ela uma garrafa de cerveja? Ou uma dose de tequila? Bom, eu não lembro de nenhuma cor ou nuance das vezes que me permiti essas experiências. E o gosto do sorvete, mesmo passado anos, ainda ecoa na minha boca.
Agora eu posso comentar, super faceira (:
ResponderExcluirAcho esse um dos teus melhores textos, porque mostra muito da tua sensibilidade e da pessoa que tu quer ser e é!
Beijoos