segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Incomensurável

Eu sempre fui bom com as palavras. E ao meu ver, isso nem é algo para se vangloriar, visto que basta uma vida inteira com o nariz dentro dos livros para que tenhamos afinidade com as mesmas. As palavras, assim como as pessoas, só se tornam familiares com o tempo, com a frequência vem a intimidade. Com o tempo, as letras se tornam cúmplices, confidentes. Quando se conta com a cumplicidade, qualquer trabalho se torna mais fácil. Quando temos um problema, ou alguma missão, as palavras se oferecem prestativas. Até mesmo aquelas mais arredias, esquecidas nos cantos das nossas referências, saltam a luz. São companheiras, ávidas por ajudar aqueles a quem são fiéis a elas.
Por esse motivo, nunca tive problema em dimensionar sentimentos que para a maioria são desafiadores, como amor, paixão, dor e etc. Era fácil, acessível. Eu conseguia ver o horizonte e dimensionar pela magnitude das palavras cada sentimento ao qual eu tinha contato. Mesmo que não para os outros, me satisfazia em escrever para mim. 
Mas isso mudou. Cheguei a uma etapa da vida em que estou em contato com magnitudes que eu, do alto dos meus livros, só posso encarar com admiração. E as vezes medo.
Meus sentimentos, antes horizontes guardados e sitiados por cercas, se transformaram em infinitos. Quando falo sobre o que sinto em contato com aquela que amo, me sinto como em um barquinho no meio de um mar infinito. Não consigo mensurar os limites, nem mesmo se eles existem. 
Meu olhar crítico, treinado, se perde em um sem fim horizontal. Meus sentimentos, de latifúndios tornaram-se oceanos.
Cada sorriso, cada evento é tão gigantesco, que eu me sinto como se não conseguisse com as minhas pernas impor a distância necessária para ver os limites do amor. E quanto mais busco ver ao longe, na vã esperança de dimensionar na petulante abstração humana, noto que não existem limites, não existem bordas. Ela é como o universo, infindo, fértil, gigante. Procurei então palavras para que eu tentasse arranhar o o firmamento da sua dimensão. Encontrei a palavra incomensurável.. Incomensurável, é maior que imenso. São distâncias tão gigantescas que não possuem quiçá  referência possível. São medidas sem par, tamanhos incompreensíveis. Meu sentimento por ela é incomensurável, pois eu simplesmente não consigo ver suas margens. Quando me perguntam o que eu seria capaz por ela, eu posso dizer que não faço ideia do que eu não faria. Longe de ser um clichê, é um atestado da minha insignificância frente a infinitude morna e agridoce da sua presença. Então eu, que sabia muito, hoje digo: não sei. Eu só sei que faria.
Enfim, me vi frente a frente a um desafio que não conseguirei jamais cumprir. Pois ao incomensurável só toca existir, ser. E a quem o vê, só resta admirar.

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