domingo, 14 de junho de 2015

Dinossauros

Eu sou um adulto de 26 anos como todos os outros. Pago contas, tenho dor de cabeça, cumpro minhas metas, pago meus impostos, estudo, compro pão e vou ao cinema. Vivo, e busco encontrar pra minha vida a maior relevância possível. Sou filho de trabalhadores, que mesmo frente a qualquer dificuldade, nunca deixaram de proporcionar aos filhos algo que é de suma importância: fantasia.
Meus pais, acima de tudo me proporcionaram fantasia. Lembro como se fosse hoje, que os meus primeiros livros, utilizados para me estimular ao hábito da leitura, falavam das criaturas mais fantásticas que esse mundo já viu. Sim, eram dinossauros.
Lembro de como eles eram como se hoje mesmo os tivesse em mãos. Eram 12 exemplares finos, ilustrados, em papel brilhoso, hoje desgastados pelo tempo. Cada edição tinha ilustrações vívidas de todos os tipos de dinossauros, com sua altura, peso, velocidade, onde viviam e o que comiam. 
Eu lembro que eu confidenciava aos meus colegas, mostrando uma foto de um dinossauro machucado: - Tu acha que ainda dá tempo da gente chegar lá e salvar ele?
Eu cresci, e nunca deixei minha fantasia de lado. Eu recortava matérias de jornal, procurava em livros, roubava matérias de jornais que encontrava nos lugares onde eu passava. E quando me perguntavam o que eu queria ser quando eu crescesse, eu dizia sem dúvidas: - Eu quero ser paleontólogo.
Lembro do dia que meu pai chegou com a VHS do Jurassic Park para assistirmos, no ano de 1993. Quanta magia existia em algumas gramas de plástico. A caixa era toda entalhada, em formato de fóssil, de um negro brilhante e hipnotizante para os meus poucos anos de vida. Eu vi muitas vezes, e eu incomodei meus pais para ver mais e mais. Tinha vezes que eu ia na videolocadora somente para ficar olhando a capa. É sério.
Eu fui crescendo, mas nunca deixei a fantasia de lado. Sempre a levei comigo, seja onde eu fosse. Recortava revistas, cheguei a assinar algumas, buscava onde pudesse mais sobre esse mundo que apesar de não existir mais, para mim era tão real quanto o presente. Eu queria mais.
Em um aniversário, lembro do meu pai me levar a cidade de Santa Maria para ir em busca do sítio arqueológico da cidade, para eu ver os fósseis, enfim ao alcance da mão. E vimos. 
Amadurecer é um processo doloroso, e muitas vezes durante o processo, deixamos para trás coisas que eram tão especiais pra nós. Pode ser até que faça parte, e esquecer as vezes é a única opção que temos. Trocamos nossos dinossauros por motocicletas, por casas, por pessoas, por coisas.
Eu sou um adulto como qualquer outro. Talvez a diferença seja que eu nunca abdiquei da minha fantasia. Eu jamais deixei pra trás aquela criança que era fascinada pelos fantásticos dinos. E eu cuidei dela, para que ela nunca se sentisse só, nesse mundo dos adultos. Afinal, convenhamos, é muito chato.
Eu me formei, comecei a trabalhar, comecei e acabei relacionamentos, fui de publicitário à mestrando em artes. Segui meu caminho, construí minhas pontes. E um dia, um filme que eu realmente não esperava apareceu em cartaz: Jurassic World. 
Eu morava em uma cidade pequena, e lá não havia cinema. Eu realmente nunca esperava ter a oportunidade da experiência de assistir a um dos "Jurassics" no cinema. E eu tinha a minha chance, enfim. Os ingressos comprados, a fila e uma única certeza na mente, aquele que estava ali não era mais eu de 26 anos.
Eu entrei na sala e assisti com a boca aberta, sem me importar com qualquer julgamento o filme do início ao fim. Sorvi a poética do CGI, a tecnologia de imagem sem me importar com mais nada no mundo. Eram os meus dinossauros, vivos! Ferozes, indomáveis e poderosos.
Era a minha infância que, com garras e som estraçalhava carros. Não era fruto de diretores ou atores de hollywood, eram os meus "reptéis terríveis" que saltavam da tela direto pros meus olhos ingênuos de criança. Eram os meus dinos.
Eu ri, eu comentei, eu saltei da cadeira em muitos momentos e eu fui criança, mais uma vez. Ah, e serei muitas vezes antes de sair de cartaz.
Ao fim do filme, fui falar direto com meus pais e os agradeci mais uma vez pela paciência de aturarem a minha paixão pelos dinossauros. Por terem me proporcionado fantasia. Agradeci pelo legado que o carinho deles me proporcionou. Pois sem o esforço daquela fita VHS preta, ou dos dinossauros de borracha que me compravam, eu não teria tido a experiência fantástica que tive hoje.
É bobo, é ingênuo e é inocente. Talvez seja até simplório, mas o que tive hoje foi a alegria de uma criança de 20 anos atrás, e se alguém por um minuto me julgou... Bom, crianças não dão muita importância pra julgamentos, temos a nossa própria moral.
Por fim, cheguei em casa. Na minha casa de adulto, de pessoa séria, que vota e respeita as leis. Larguei minha mochila e peguei nas mãos os objetos mais valiosos da minha casa. Meus dinossauros de plástico.
Larguei minha mochila e a minha adultidade no sofá, e novamente peguei nas mãos daquela criança.
Pois a fantasia não está extinta, nem os dinossauros. Pelo menos na minha casa.

Um comentário:

  1. Óiiin, que querido <3
    Eu ainda não fui ver esse novo, mas também cresci assistindo Jurassic Park e fiquei feliz em saber que eles iam novamente trazer à vida essa história.

    Em tempos onde dragões governam, os dinos vem pra mostrar o seu valor :)

    Beeijo

    ResponderExcluir